A noite da última quarta-feira ficará marcada na memória de muitos torcedores do Santos, mas de uma forma negativa. Com a derrota de 2 a 0 do Peixe para o Corinthians, pela 14ª rodada do Campeonato Brasileiro, santistas começaram uma onda de protestos na Vila Belmiro.
O clima no estádio assustou a muitos. A Gazeta Esportiva conversou com algumas pessoas que estavam acompanhando o clássico in loco.
Rafael, de 23 anos, estava no setor das organizadas, onde toda confusão começou. Além de cânticos contra a diretoria e elenco, bombas foram atiradas no gramado. Segundo o administrador, o clima começou a esquentar por volta dos 20 minutos do segundo tempo. Um corintiano chegou a ser identificado nas arquibancadas e foi agredido.
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“A última vez que eu vi tanta polícia foi na eliminação para o Barcelona de Guayaquil, em 2017. Desde então, eu nunca mais tinha visto a Vila assim, com tanta polícia e batalhão. O clima já estava de terror. Com 20 minutos do segundo tempo, o clima ficou mais tenso. O pessoal ficou mais exaltado, começaram a procurar gente sem a camisa do Santos para ver se era corintiano. Chegaram a pegar um cara e bateram nele”, disse à reportagem.
Em meio ao tumulto, Rafael tentou deixar a Vila Belmiro o quanto antes. Do lado de fora, porém, o clima também era de guerra.
“Aos 40, jogaram as bombas, ai eu sai do meio da torcida. Muita gente queria ir embora, mas a segurança fechou um dos portões. Tinham crianças e mulheres querendo sair. Quando saímos, vi um cara jogando uma garrafa em um policial. A partir de então, começaram a jogar muitas coisas. Os policiais responderam e atiraram. Não dava para ficar parado. Muita correria”, ampliou.
Na opinião de Gabriel, que também estava no setor das organizadas, os protestos já eram esperados. O engenheiro de 26 anos, contudo, também se assustou com a proporção que a manifestação tomou, especialmente nos arredores da casa alvinegra.
“Três anos sofrendo nessa gestão, manchando o nome e a história do Santos. A gente sabia que ia ter alguma coisa. Começamos a protestar com música e aí vieram as bombas. Eu me afastei um pouco da torcida, fomos mais para o campo. Na saída, tive que sair correndo. Era bomba e tiro para todo lado. Foram momentos de desespero. Você não fez nada e pode ser atingido”, comentou.
Aos 20 anos, Lucas foi com a sua família assistir ao clássico. O estudante ficou horrorizado com as cenas que viu, ainda mais por estar com o seu irmão mais novo.
“Eu nunca vi nada igual. Foi uma experiência terrível. Foi uma noite de terror. As bombas caindo e não era tão longe de mim. Fora do estádio também seguiu com brigas. Eu estava com meu irmão pequeno lá, queria segurança. Foi realmente assustador. Dá medo, na hora de ir embora também…foi uma noite de terror”, disse.
Essa, aliás, não é a primeira vez que partidas terminam em confusão na Vila Belmiro. Em 2022, contra o mesmo Corinthians, bombas também foram atiradas no gramado. Neste ano, o mesmo aconteceu contra o Newell’s Old Boys.
Presente tanto no clássico do ano passando quanto no desta quarta-feira, a santista Thaís adotou uma estratégia com a sua amiga para evitar qualquer transtorno. A ideia era “fugir” do estádio caso o jogo estivesse caminhando para uma derrota dos mandantes.
“Sabendo do clima tenso e já tendo passado por isso em outra ocasião, me organizei com uma amiga para sair o quanto antes da Vila. Descemos correndo. Do lado de fora, o clima ainda estava relativamente tranquilo, todo mundo saindo apressado, percebendo o cenário de risco. Uma situação muito triste. Foi um dos piores protestos que já presenciei no estádio. Por sorte nada aconteceu comigo e com as pessoas que estavam comigo”, declarou.
“Foi um clima bem tenso desde o começo do jogo. A torcida cantava, mas já ficava nervosa quando o Corinthians pegava na bola. Não era um clima legal. Com o placar desfavorável agravou tudo. Foi uma chateação. A gente quer estar presente no estádio e que seja um ambiente seguro”, finalizou.
A confusão na Vila Belmiro
O duelo entre Santos e Corinthians foi encerrado por volta dos 40 minutos do segundo tempo por conta de fogos atirados no gramado da Vila Belmiro. A torcida santista decidiu protestar antes do apito final por conta da derrota do Peixe por 2 a 0.
Com o fim do embate, os jogadores do Corinthians correram para o vestiário. Já os santistas precisaram esperar por um tempo no circulo central. Inicialmente, eles tentaram entrar no túnel, mas a torcida do Peixe no setor das organizadas atirou mais fogos na direção do gramado. Na segunda tentativa, os atletas correram e conseguiram acessar o túnel.
Os fogos arremessados levantaram muita fumaça no campo e, durante os protestos, a torcida santista gritou em coro contra o presidente Rueda, os jogadores do Alvinegro Praiano e o técnico Odair Hellmann, que acabou sendo demitido.
Do lado de fora, o clima também foi muito tenso. Torcedores entraram em conflito com a Polícia Militar, que utilizou gás de pimenta para dispersar a confusão. Em certo momento, a situação chegou a ficar mais calma. Contudo, instantes depois, um grupo de pessoas se juntou e partiu para cima dos policiais. Imediatamente, os agentes responderam com gás de pimenta, balas de borracha e jatos de água.
Na súmula da partida, o árbitro Leandro Pedro Vuaden relatou o arremesso dos rojões em direção ao gramado da Vila Belmiro. A confusão causou o fim antecipado da partida, aos 41 minutos da etapa final.
“Aos 41 minutos do segundo tempo, quando a partida estava paralisada, torcedores do Santos — localizados atrás da meta defendida pelo goleiro do Corinthians, Cássio —, arremessaram diversos artefatos explosivos (rojões) em sua direção para dentro do gramado. Após 3 minutos de paralisação, diante do cenário de insegurança e pensando na integridade física dos atletas, da arbitragem e todos envolvidos na partida, encerrei a mesma”, afirmou o documento.
Clima voltou a esquentar. Torcedores se uniram e foram para cima dos policiais, que reagiram. pic.twitter.com/EUO38ubWZJ
— Rodrigo Matuck (@Romatuck) June 22, 2023